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Sob as mesmas regras que regem o futebol moderno, diante dos olhos do mundo e de gigantes do esporte, o Botafogo se consagrou tricampeão mundial ao vencer, em 1967, 1968 e 1970, o Torneio de Caracas, também conhecido como Pequena Taça do Mundo. Disputado na Venezuela e organizado pela Federação Venezuelana de Futebol, filiada à FIFA, o torneio reuniu os maiores clubes e seleções da época — e foi dominado pelo Glorioso.
Na ausência de um torneio mundial oficial da FIFA para clubes até o ano 2000, competições como a de Caracas preenchiam esse espaço. Elas eram organizadas por federações reconhecidas, com árbitros FIFA, bola oficial, formato competitivo e critérios técnicos para os convites. A relevância não era apenas simbólica: os clubes convidados representavam o topo do futebol mundial, incluindo campeões da Europa, da América do Sul e seleções nacionais. A FIFA, na época, não chancelava diretamente torneios de clubes internacionais, o que não invalida — e jamais invalidou — a legitimidade do que foi disputado sob seu regulamento.
Em 1967, o Botafogo enfrentou adversários como o Spartak Trnava, da Tchecoslováquia, e o Barcelona, da Espanha. Em 1968, conquistou o bicampeonato ao vencer o tradicional Peñarol e a própria seleção da Argentina, que era, naquele momento, a atual campeã da Taça das Nações de 1964, torneio oficial organizado pela CBD em comemoração aos 50 anos do futebol brasileiro. Naquela competição, a Argentina superou o Brasil de Pelé, Gérson, Quarentinha e Jairzinho, ícones do futebol mundial. E em Caracas, o Glorioso deu o troco: venceu a poderosa seleção argentina por 2 a 1, com atuação histórica e gol decisivo de Roberto Miranda.
Em 1970, o tricampeonato foi selado diante do Anderlecht, da Bélgica, completando a trilogia dourada. Vale lembrar: naquela mesma temporada, muitos dos craques do Botafogo também brilharam no tricampeonato mundial da Seleção Brasileira no México.
Não há dúvida sobre o valor esportivo dessas conquistas. Foram jogos sérios, disputados com times titulares, sob arbitragem oficial, amplamente cobertos pela imprensa internacional. O Botafogo, inclusive, formava a base da Seleção Brasileira campeã do mundo em 1970, com craques como Jairzinho, Gérson, Paulo Cézar Caju, Roberto Miranda, Manga, Leão, Carlos Alberto Torres (revelado pelo clube) e outros ídolos que marcaram época.
Além disso, jornais da Europa, América do Sul e da própria Venezuela estampavam nas manchetes que o Botafogo era campeão mundial, reconhecendo o peso e a representatividade do torneio. O clube carioca não apenas venceu; ele encantou o mundo com um futebol ofensivo, técnico e vitorioso. A imprensa da época tratava Caracas como palco de um verdadeiro campeonato intercontinental — com o Botafogo soberano.
O argumento de que tais títulos não seriam “oficiais” por não constarem na lista da FIFA ignora o contexto histórico da época, em que a própria FIFA não organizava torneios mundiais de clubes. Se uma federação filiada à entidade máxima do futebol mundial, com respaldo técnico e competitivo, organiza um torneio entre os maiores vencedores do planeta, e esses jogos seguem as regras do futebol internacional, quem pode dizer que não foi uma disputa mundial?
Mais do que títulos, o que o Botafogo conquistou foi respeito global, reconhecimento esportivo e a consagração de uma geração que mudou a história do futebol brasileiro. É hora de o mundo — e o Brasil — reconhecer: o Botafogo foi campeão mundial. Três vezes.
Fonte: Redação Fogão Play | + acervo histórico (Jornal do Brasil, Placar, RSSSF, imprensa venezuelana e europeia)


